segunda-feira, 30 de maio de 2011

JÁ OUVIU FALAR EM NÍSIA FLORESTA?



Então leia o texto abaixo de uma redação que escrevi em 2006 para um concurso de redação do "Jornal Correio Braziliense" de Brasilía da Fundação Assis Cahteaubriant.
LEIA...

Nome: Vera Lúcia da Mata Lula
Escola: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Cidade: Brumado - BA
Categoria : Ensino Universitário
Classificação : 3º lugar

NÍSIA FLORESTA: uma brasileira à frente de seu tempo

              As mulheres desde a idade média foram sinônimo de pecado, fraqueza, luxúria e devassidão. Eram consideradas, por teorias criadas por homens, seres sem alma, inferiores, que deveriam ter uma posição subalterna, de obediência e de inferioridade. Os filósofos cristãos chegaram a considerá-las um "ato acidental" de Deus, tamanha era a sua aversão às mulheres. Mas a Igreja, precisando de fiéis, começa a querer arrebanhá-las, para isso cria a visão de santificação da maternidade, na figura de Maria. E para que elas alcançassem a salvação era preciso• que elas se penitenciassem, transcendessem a podridão da matéria através do sofrimento. Por isso a sexualidade feminina passa a ser escandalosa e os mitos começam a crescer. Por ser escandaloso aludir à sexualidade feminina, a higiene e a medicina feminina se perdem. O funcionamento da corpo da mulher, então, transforma-se num mistério para os homens e para elas mesmas. À mulher não era permitido ver seu corpo por inteiro, muito menos seu órgão genital.
           É nessa situação da mulher do século XIX que surge a cidadã universal DIONISIA GONÇALVES PINTO, mas tarde conhecida como Nísia Floresta Brasileira Augusta, uma potiguar a frente de seu tempo. Nasceu em 1810 em Papari, Rio Grande do Norte. Seu pai era advogado e isso, provavelmente, fez dela uma mulher de mente aberta e uma cidadã consciente de sua função na sociedade da época. Educadora e pioneira do feminismo brasileiro.
            Foi a primeira mulher no Brasil a romper os limites entre os espaços público e privado publicando textos em jornais, numa época em que a imprensa nacional começava. Nísia também dirigiu um colégio para moças no Rio de Janeiro e escreveu livros em defesa dos direitos das mulheres, dos índios e dos escravos.
O primeiro livro escrito por ela e o primeiro no Brasil a tratar dos direitos femininos à instrução e ao trabalho intitula-se: "Direitos das mulheres e injustiça dos homens", e foi inspirado no livro da feminista inglesa Mary Wollstonecraft: Vindications of the Rights of Woman. Mas Nísia não fez uma simples tradução, ela se utiliza do texto da inglesa e introduz suas próprias reflexões sobre a realidade brasileira.
              Foi com esse livro que ela recebeu o título de precursora do feminismo no Brasil e na América Latina, pois não existem registros de textos anteriores realizados com estas intenções. Mas ela não parou por ai. Em outros livros continuou destacando a importância da educação da mulher e da sociedade. São eles: Conselhos a minha filha, de 1842; Opúsculo humanitário, de 1853; A Mulher, de 1859.
                O pseudônimo escolhido revela sua personalidade e opções existenciais: Nísia, diminutivo de Dionísia; Floresta, para lembrar o sítio Floresta; Brasileira, como afirmação do sentimento nativista; e, Augusta, uma homenagem ao companheiro Manuel Augusto. Em 1828, Nísia Floresta já separada do primeiro casamento feito aos 13 anos, vai morar com um acadêmico da Faculdade de Direito, Manuel Augusto de Faria Rocha, de Goiana e com ele ela tem uma filha: Lívia Augusta de Faria Rocha, companheira das viagens pela Europa e sua futura tradutora, um segundo filho que nasce morto em 1832 e teve um terceiro filho-homem, algum tempo depois.
              Neste mesmo ano Manuel Augusto conclui o bacharelado em Direito e transfere-se com Nísia, a filha Lívia, a mãe e as irmãs de Nísia, Clara e Izabel, para Porto Alegre (RS).  Volta para Pernanbuco e se dedica a um jornal dedicado às senhoras pernambucanas do tipógrafo francês Adolphe Emille de Bois Garin, começa aí a escritora. Durante trinta números do jornal (de fevereiro a abril), Nísia colabora com artigos que tratam da condição feminina em diversas culturas, com conselhos, depoimentos e criticas ao tratamento que as mulheres tinham dos homens.
               Em 1833 seu marido Manuel Augusto morre repentinamente, aos vinte e cinco anos, deixando-a com os dois filhos pequenos. A dor por esta morte prematura e as saudades de mulher apaixonada refletirão em seus escritos, como um testemunho a fidelidade ao companheiro morto. Nísia decide permanecer em Porto Alegre, dedicando-se, sobretudo, aos filhos e ao magistério.
               Em 1837 novamente no sul, Revolução Farroupilha, o clima na capital gaúcha fica tenso e difícil para uma mulher, chefe de uma família composta por crianças e outras mulheres. E Nísia Floresta transfere-se para o Rio de Janeiro. No ano seguinte estampa no Jornal do Comércio um anúncio do estabelecimento de ensino que estava inaugurando, o "Colégio Augusto", em homenagem ao companheiro desaparecido.
               Em 1846 é publicado no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, a lista das alunas que receberam menções honrosas do Colégio Augusto e a relação dos examinadores em diversas disciplinas. O nome de Lívia Augusta de Faria aparece como uma das premiadas em latinidade. No mesmo dia, em outra coluna, temos o testemunho de um dos examinadores elogiando as alunas e a diretora, Nísia Floresta. Mas as perseguições começam, anonimamente, no Jornal do Comércio, criticas severas sobre as propostas educacionais avançadas e inadequadas às meninas.
                No entanto a sua atuação não foi só a favor das mulheres. Em 1849, publica Primeira edição de "A Lágrima de um Caeté", sob o pseudônimo de Telesilla. O poema de 712 versos trata do processo de degradação do índio brasileiro colonizado pelo homem branco e do drama vivido pelos liberais durante a Revolução Praieira, reprimida em Pernambuco em fevereiro deste mesmo ano.
              Em 1849, dia 7 de setembro, Lívia sofre um acidente ao cair de um cavalo e o médico, após semanas de tratamento, aconselha mudança de ares. Nísia Floresta resolve, então, ir para a Europa com os dois filhos, o que faz em 2 de novembro a bordo da galera francesa Ville de Paris. Para muitos, a saúde da filha foi apenas o pretexto para ela se ausentar do país. Com efeito, a campanha difamatória nos jornais e o sucesso do livro elogiando os liberais eram motivos suficientes para a escritora se sentir pouco à vontade na Corte.
               Apesar de a autora estar residindo em Paris, é publicado em Niterói um romance histórico "Dedicação de uma amiga",  1850,  livro considerado o primeiro romance escrito por uma norte-rio-grandense, segundo os historiadores. Nísia Floresta assiste as conferências do Curso de História Geral da Humanidade, ministradas por Auguste Comte. Veio a se tornar uma grande amiga deste pensador positivista, inclusive o recebendo em sua casa em Paris.
              Mas ela não pára e publica em 1853, Opúsculo Humanitário, sobre a educação da mulher, nele a autora combate o preconceito e condena os erros seculares da formação educacional da mulher, não só no Brasil como em diversos países.
              Em 1856 Nísia Floresta segue para a segunda viagem à Europa. Augusto Américo permanece no Rio, estudando. Só após dezesseis anos tornará a ver a paisagem carioca de que tanto gostava, bem como os parentes que ficavam no cais. O Colégio Augusto anuncia pela última vez seus cursos e, após dezoito anos de funcionamento, fecha definitivamente suas portas.Pressionada pela família em 1871 e desgostosa com os conflitos da Comuna em Paris, Nísia vende seus pertences em Paris e volta ao Rio de Janeiro. Lívia não a acompanha e permanece na Europa. Em 1872, a Revista O Novo Mundo, de J. C. Rodrigues, de New York, traz uma extensa notícia biográfica da autora acompanhada de um retrato, que contribui para torná-Ia ainda mais conhecida. Em 1872, após dezesseis anos no exterior, Nísia desembarca do vapor inglês "Neva", no Rio de Janeiro. Fica pouco aqui em sua terra, pois pouco mais de dois anos Nísia Floresta retoma à Europa.
                 Morre em 1885, 24 de abril, numa quarta-feira de muita chuva, às nove horas da noite, Nísia Floresta Brasileira Augusta morre vitimada por uma pneumonia. Dias depois, é enterrada num jazigo perpétuo no Cemitério de Bonsecours. Em 1888 - o Centro do Apostolado do Brasil publica Sete Cartas Inéditas de Auguste Comte a Nísia Floresta, no Rio de Janeiro. Mulher preocupada com os problemas políticos e sociais de sua época refletidos em seus textos sobre o modo de vida, a história e as manifestações culturais da vida das mulheres, dos índios e dos negros.
                 Nas palavras de Câmara Cascudo, Nísia Floresta era "a grande ave de arribação, cujas asas não cabiam nos limites do ninho..." (A República, Natal, 17/01/1940).
                  Mas em 1933, no Rio de Janeiro, Roberto Seidl publica o opúsculo: Nísia Floresta 1810/1885- A vida e a obra de uma grande educadora, precursora do abolicionismo, da República e da emancipação da mulher no Brasil. Em 1953, através da lei n° 1892, de 23 de junho de 1953, o governo brasileiro fica autorizado a fazer a trasladação de seus restos mortais para o Brasil. Desde 1954, 12 de setembro, os restos mortais descansam em Papari que, aliás, já se chamava Nísia Floresta. Desde então, Nísia repousa no mausoléu construído em sua homenagem, próximo do local da antiga residência do sítio Floresta.




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