segunda-feira, 30 de maio de 2011

COMO É BOM TER IRMÃOS!

            Dizem que amigos nós escolhemos, mas os parentes nos foram dado por Deus. E é nesta premissa que acredito. Sou a mais velha de onze irmãos e os vi nascer e crescer, isso tornou a nossa família, para mim, um “tesouro imensurável”. Acho que eles nunca entenderam este amor!
           Quando éramos crianças, nossos pais, por vezes, não entendiam e nem aceitavam lá em casa as brigas entre irmãos. Só quando amadurecemos que compreendemos que isso era um forte canal com grandes potencialidades educacionais na família. Ás vezes, os pais temem em resolver todas as dificuldades dos filhos durante esses conflitos, mas se esquecem que a briga é natural. Isso era bom para nós, para os irmãos era fonte de aprendizagens e preparo para a vida, ajudando a cada um a aprender a resolver os problemas no mundo lá fora.
         Tenho seis irmãos homens. Certa vez houve uma briga no quarto entre eles e os três mais velhos, quase mataram os dois mais novos. Vou contar-lhes:
Havia um programa de televisão chamado “Telequete”, onde os participantes praticavam luta livre e um, entre os lutadores, se destacava como herói de meus irmãos mais velhos: Henrique, Anchieta e Luiz - Ted Boy Marino. Quando terminava o programa e que eles iam dormir, antes, resolviam praticar a luta no quarto e pegavam os mais novos. Resultado: eles apanhavam, Armindinho, Cláudio e Rui. Certa vez, Rui bateu a cabeça na parede e quase desmaiou. Minha mãe descobriu o que acontecia e proibiu a TV.Mas os pais precisam ter paciência para com esse tipo de situação. Na verdade os irmãos aprendem muito um com o outro. Embora muitas vezes eles recorriam à intermediação de minha mãe, na grande maioria da vezes, o mais eficaz era que eles próprios resolvesses seus conflitos. Aprendiam muito uns com os outros. As brigas eram constantes, natural. Isso ajudou na convivência e no enfretamento de dificuldades. Mas eles não só brigavam, se divertiam, disputavam no futebol, nadavam quase a tarde toda na piscina do Social Clube, brincavam muito,
           Numa família numerosa como a nossa, problemas eram normais. Eram onze filhos e todos diferentes uns dos outros. Quando eu tinha dezesseis anos comecei a dar aulas no bairro Jacuí em Monlevade, aos dezessete fiz teste para a Belgo Mineira, hoje Arcelor Mittal e comecei a trabalhar como secretária para ajudar meus pais. Eu quase não ficava mais em casa, saia às 7 horas da manhã e voltava às 22,30 horas depois da escola noturna, onde eu terminava o curso de magistério, Colégio Kennedy. Mas continuava a ajudar a minha mãe na educação de meus irmãos, pois nos intervalos que chegava em casa, minha mãe me dizia quem havia feito “o quê” e lá ia eu chamar a atenção e conversar com meus irmãos.Aos sábados era uma diversão! Eu estava encarregada de dar banho nos seis. Levava-os para o banheiro, enfileirava todos, o primeiro era ensaboado, passava para debaixo do chuveiro e próximo se aproximava. Era muito bom!
Tudo aconteceu foi normal e importante. Os meninos brincavam muito e nossos pais não proibiam as brincadeiras. Meu pai era rigoroso? Era. Mas numa família com tantas crianças acho que ele não encontraria outro caminho a seguir. Fomos criados debaixo de muita disciplina, respeito, honestidade, religião e simplicidade.
           À noite, “os seis” brincavam na Vila Tanque de pique de esconder, polícia e ladrão, de bola e aprontavam. Certa vez Rui fugindo da “polícia” caiu no muro lá de casa e quebrou o braço, fratura exposta, teve que ser operado e levou parafuso no braço. Todos os meus irmãos, acho, eram muito agarrados comigo. E aos vinte anos me casei e Rui foi morar comigo no bairro Satélite. Eu dava aulas na Escola do bairro e ele foi para me fazer companhia. Morou comigo um ano, no final do ano de 1971, meu pai não deixou mais porque ele não queria mais ir lá para casa. E os outros? “Fugiam”. Iam lá para casa ficar comigo a tarde toda. Tempo bom aquele! Porque descobri que não é só importante termos irmãos, mas sermos irmãos de verdade uns dos outros, apesar da distância geográfica e do tempo.
          Problemas? Existiam. Traumas? Temos muitos. Mas que família não os tem?
Nossa mãe sempre foi fantástica! Cuidava desta prole grande, além de parir quase todo ano. Não me lembro de ter comido, nem uma vez nesta vida, arroz com feijão puro, pois ela sempre preparava algo diferente para nós, nem que fosse samambaia do mato ou maria-nica.
            Hoje percebo a vantagem da família grande! É muito bom!... Pois entre nós, os filhos, aprendíamos a nos desdobrar em esquemas de ajuda domésticas, que desenvolveram o nosso sentido de cooperação. As atividades eram repartidas e os encargos familiares ficavam menos pesados. Isso nos ensinou a ter responsabilidades, fomos ensinados com isso a sermos generosos com os demais membros da família e com os outros de fora, pelo exemplo de nossos pais, aprendemos a caridade e o acolhimento dos outros. Aprendemos a nos sentirmos úteis e laboriosos. Nosso pai marcava hora para começar a arrumar a cozinha, por exemplo, e hora de terminar e tínhamos que fazer e bem, senão nossa mãe chamava para fazer de novo. E aí parávamos a brincadeira que estávamos fazendo no quintal de nossa casa na Rua Tabajaras e fazer tudo de novo. Era divertido.
           Nas brincadeiras crescemos e nos protegíamos. Aprendemos a compartilhar e a valorizar os poucos brinquedos que ganhávamos, as roupas e o espaço, pois os recursos eram poucos e tinham que ser divididos. Eu me tornei muito autônoma e adaptável ao mundo. Não há nada na vida que substitua um irmão, nem mesmo a oportunidade de ser rico, estudar em uma faculdade particular, entre outras coisas.
Descobri na luta diária pela vida, que todas as arestas rugosas de nossa personalidade, nossos irmão as poliram, pelo simples fato de existirem e de tornarem a nossa vida uma pequena amostra do que encontraríamos como adultos e nos tornamos, em aspecto positivos e negativos, a panela efervescente da vida, borbulha alegria e prazer e o “fazer” valeu a pena.
              Há quem não entenda os irmãos! Será porque, quando amadurecem, apesar dos anos anteriores de entrevero, os irmãos se afastam, não se entendem e não se respeitam tanto. Não seria, também, por falta de reconhecimento das diferenças? Não seria por falta de aceitar os outros como são? Pois se chegamos a crescer juntos como seres humanos e a desenvolver virtudes quando crianças, será que não temos que ser muito gratos aos nossos irmãos? Qualquer que tenha sido a diferença de idades em relação à nossa, fomos protagonistas indispensáveis em nossa formação, em nossa vida.
Lendo certa vez o livro: "Mulheres que Correm com os Lobos", Clarissa Pinkola, observei que algo me chamou a atenção: "Dizem que tudo o que buscamos, também nos busca e, se ficarmos quietos, o que buscamos nos encontrará. É algo que leva muito tempo esperando por nós. Enquanto não chega, nada faças. Descansa. Tu verás o que acontece enquanto isto.” Amo demais vocês, meus irmãos.

VERA DA MATA

VC, 26/05/2011

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