sexta-feira, 25 de março de 2011

SOMBRA DE SEUS OLHOS


Ontem fechei os olhos
Fui muito longe e tão tarde!
Sob à sombra dos olhos seus,
Parei nas águas de meus sonhos.
Eram águas profundas,
Amargas e escuras.

Lá ... mirei meus olhos
Que juntos com os seus - voaram
Na madrugada fria
Onde os pássaros noturnos voam
E não cantam.

Cantando pus-me a esperar.
Esperar a doce luz do silêncio
Que vi em seu olhar.
Procurei em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Mas no mar nada encontrei...
Só vi a solidão,
Que vive a me castigar.

Quando os olhos eu fechar,
Pode ser que eles não queiram ...
Pois espero que o tempo volte,
Nas lembranças, na vida, nos netos,
perto do céu, por sobre o mar,
Na terra e no tempo que voltar.

Vera da Mata
VC, 25/03/2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

SIMPLEMENTE MONLEVADENSE!



Hoje acordei especialmente saudosa de minha terra. Não sou poeta, mas na minha simplicidade de mulher desnudo a minha imaginação a imagem mais linda de minha terra natal. Faço uma viagem ao meu Vale do Aço, ao restante da floresta Atlântica que por lá há, ao verde de suas árvores num chão que também é meu, chão brasileiro. Sou um pedaço da embaúba que nasce naquelas matas ao redor da cidade. Desfilo pelas veredas abertas de minha saudade e transpiro o dom de escrever sobre o solo que pisei por 42 anos.
Em meio a lembranças tantas, o pó, o ferro, a terra, a mata entoam em meu coração a poesia soprada pelo vento. Sou um pedaço de tudo que tem lá. Lembro-me das iguarias, que só a comida mineira tem: tutu de feijão, frango com quiabo, arroz de forno, inhame, taioba. E no pé das montanhas e morros me transporto...
Tabajaras, ali fui criada, lá cresci, brinquei, sonhei, ri e chorei. Lá desabrochou a minha meninice, eu e meus irmãos, teimando em não rolar morro abaixo, na terra, quando a minha mãe em casa não estava. Lá soltei papagaio, joguei finca, brinquei de roda, piques de esconder, entre outras brincadeiras.
Ah, saudade! Porque teima em cutucar-me o juízo?
Por onde anda o Coral Monlevade que fez parte de minha adolescência? Por onde anda o Grêmio Literário do Antigo Ginásio Monlevade onde declamávamos poesia de Castro Alves e Olavo Bilac, e que, às vezes, esquecíamos, mas que serviu para o nosso crescimento cultural e social? Por onde anda a fanfarra de 7 de setembro do Ginásio, que na minha época, as mulheres, pela primeira vez, começaram a tocar? Por onde anda minhas colegas de escola? Por anda meus queridos professores? Por onde anda o Conjunto musical dos Congregados Marianos que meu pai sempre levava em casa para tocar e cantar para nós?
Saudade do Grêmio Esportivo Monlevadense! O domingo que não íamos para lá, depois da missa, não era domingo. O Cine Monlevade e suas longas filas para comprar entrada para o cinema! Da feira, que hoje percebo pequena e simples, mas que para nós era enorme e completa, onde tudo era tão colorido e cheiroso. Saudade da Assistência Médica onde tínhamos sempre médicos à disposição, onde havia um silêncio mórbido de gente que procurava ajuda.
Ah, saudade de minha terra! Cercada de verde, de bairros e de gente. Amo seu jeito de ser, mesmo descuidada, hoje em dia, pelo poder público. Amo seu povo, seus mitos, seus gestos.
A saudade bruta me basta! A sua ausência me basta! Tenho João Monlevade (MG) como fonte inspiradora de meu viver.

VC, 21/03/20011

Vera da Mata