quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

VISITAS QUE NÃO FAZEMOS MAIS

Texto escrito num dia de muita saudade e lembranças felizes, março de 2010 por Vera da Mata.












TEXTO ESCRITO EM 20 DE FEVEREIRO DE 2010.


Que saudade!!!

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho, vestir a única roupa boa (de domingo) que tínhamos porque a família toda iria visitar algum conhecido, algum tio ou tia. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, pela manhã e voltávamos à noite com meu pai e minha mãe carregando os dois irmãos mais novos e nós os mais velhos os acompanhando logo atrás.

Sempre saíamos em família para visitar alguém. Lembro-me de certa vez que fomos à casa de Tia Maria na Vila Tanque, rua 22, ela fazia um almoço gostoso, as crianças brincavam e a tarde íamos embora. Noutras vezes íamos à casa de Tia Celina na Vila Tanque, Nazinha, Tia Diva e Tio Joãozinho em Nova Era, era muito bom. Era costume de todos visitarem uns aos outros. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegre a visita correndo para lhes preparar o que havia de melhor em casa. Aos poucos, a família ia se acomodando, enquanto as crianças iam brincar.

Era uma surpresa agradável. A vida social da família se desenrolava de modo pacato e lento. Os adultos, depois do almoço, iam conversar e contar as novidades, a conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o meu tio e minha mãe de papo com a minha tia e minha avó. Eu e meus irmãos ficávamos observando-os e entreolhando-nos, prestando atenção na conversa que acontecia na casa.

Observávamos retratos na parede, imagens de santos, flores na mesinha de centro, era uma casa singela, arrumada e acolhedora. A nossa também era assim. Tão acolhedora que era também costume servir um bom café aos visitantes à tarde, depois do café íamos embora felizes e satisfeitos por ter convivido em família.

E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida da casa para onde íamos. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa, Padre Henrique e os professores que nos visitavam, o conjunto musical dos Congregados Marianos de Monlevade, ocasião que minha mãe preparava os lanches mais fantásticos para todos e a música rolava até altas horas. A mesma alegria se repetia, frequentemente. Quando iam embora, ficávamos, a família toda, à porta, olhando até que sumissem no horizonte da noite.
Ainda na Tabajaras costumávamos receber Tio Joãozinho, Tio Jacy e Tio Inhô que chegavam tarde da noite e as conversas rolavam até a madrugada. Para mim não tinha coisa melhor do mundo do que acordar com as vozes das visitas em nossa casa. Juntava todo mundo e as conversa e novidades pipocavam. Tempo muito bom!

Naquele tempo fazíamos visitas com os nossos pais, brincávamos na rua, andávamos a pé, subíamos em árvores, soltávamos pipa na rua, jogávamos finca e bolinha de gude e somos hoje uma geração feliz. Não tínhamos televisão. Não sabíamos de droga. Não víamos crianças abandonadas na rua. Não tínhamos brinquedos caros e nem roupa de marca. Mas a nossa vida estava ali, no riso, nas brincadeiras de rua, no café na casa de nossas tias e tios, na conversa dos adultos que teimávamos em ouvir sem poder, no abraço, na esperança do futuro que não conhecíamos. Nossa vida era respingada de eternidade e de momentos alegres, convivíamos com a simplicidade, a alegria e a amizade.

O tempo passou e hoje minha geração toma conta do mundo. E uma das coisas que se vê nesse tempo são jovens e crianças vivendo na solidão. Tem bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail, mas cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa: na praça, no barzinho, no restaurante ou na esquina, ninguém recebe ninguém. Fico pensando para que a sala de visita de nossa casa tão arrumada senão recebemos mais ninguém nela. Nossas casas estão se tornando túmulos arrumados e silenciosos, com fantasmas que não vivem. Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das conversas, das amizades, do convívio, pode roubar o nosso coração.

VERA DA MATA

2 comentários:

  1. FOTOS DA MINHA CIDADE: JOÃO MONLEVADE, MG... QUE SAUDADE!

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  2. Nas fotos acima são minhas primas, filhas de tia Celina, que foram visitar minha mãe em janeiro de 2010.

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