domingo, 21 de fevereiro de 2010

ETERNAMENTE MONLEVADE...






Minha terra tem minério,
Onde todos amam estar,
Tem riqueza de muito ferro,
do povo que ficou por lá!

Vera da Mata




Este texto foi publicado no Jornal "MORRO DO GEO" em João Monlevade em Minas gerais em outubro/2009. Escrito por Vera da Mata



UMA VIAGEM ATRAVÉS DA HISTÓRIA DE MONLEVADE NA MÁQUINA DO TEMPO

Em 1964, eu então com 14 anos de idade e morando na Rua Tabajaras, 484, aluna da quinta série do Ginásio Monlevade, tive uma aula que nos informava que a cidade não era mais distrito de Rio Piracicaba, mas de agora em diante era emancipada. Os professores nos contaram a história do muncipio desde o seu inicio e nos mostrado quem foi Jean Félix Dissandes Monlevade. Fiquei encantada com a notícia e à noite ao dormir, sonhei que entrava na máquina do tempo e via todo o nascimento da cidade de João Monlevade, como se passasse através de um filme em rápidas imagens.
O tempo passava com uma rapidez fantástica e desci na Fazenda Solar de Monlevade e perguntei a um escravo que por mim passou quem era aquele homem, nobre, aparentando uns 28 anos de idade, e em que ano eles estavam. O escravo, chamado Inocêncio, disse que se tratava de Jean Antoine Felix Dissandes de Monlevade, que havia chegado ao Brasil em 1817 e era recém-formado em Engenharia de Minas, que um homem empreendedor e que estava instalando uma fábrica de ferro...e que deixou muitos descendentes na cidade.
Observei ainda mais e vi uma quantidade enorme de outras pessoas, escravos, escravas e senhoras, todos indo e vindo de algum trabalho ou de algum passeio.
Olhei, fiquei encantada com as montanhas, o rio lá embaixo e soube que eu estava próximo ao arraial de São Miguel de Piracicaba, em Minas Gerais. Era uma paisagem que eu conhecia.
Analisei tudo ao meu redor e vi que o conhecimento que aquele homem troxera da Europa iria melhorar aquela região MINAS GERAIS. Pois com seus estudos, ele havia trazido com ele para o Brasil vários equipamentos comprados da Inglaterra, estava criando uma fábrica que estava começando a prosperar e se tornando a mais importantes no período imperial brasileiro. Tinha uma produção relativamente diversificada, enxadas, pregos e até freios para animais.
Mexi na máquina do tempo e agora estava em 1930 e pude perceber que aquela fábrica de ferro estava se transformando na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. Não sei quanto tempo fiquei naquele tempo, mas percebi que os funcionários da Belgo-Mineira eram acomodados em hotéis e alojamentos confortáveis, provisórios, construídos especialmente para eles, e, num imenso platô estava sendo ampliada as instalações da usina de Monlevade, aquela incialmente construida por João Monlevade. Acima e abaixo daquele platô, foram então surgindo as vilas residenciais, a partir das ruas Beira Rio e Siderúrgica, que ficavam entre a margem do Piracicaba e uma exuberante mata nativa.
O meu olhar se dirigiu para cima daquele núcleo pioneiro, vi novos conjuntos com nomes de grupos indígenas brasileiros - Tupis, Guaranis, Carijós, Caetés, Aimorés, Tamoios, Tabajaras e Tocantins, Cidade Alta. Do outro lado do rio, foram construídas a Tapajós, Paraúna, Tietê, Amazonas e Santa Cruz.
Aqueles nomes me chamaram a atenção e me lembrei que eu havia nascido exatamente ali na Rua Aimorés, e que naquela época eu morava na Rua Tabajajaras. Os conjuntos residenciais fervilhavam de gente por todos os lados: homens saindo para o trabalho, mulheres cuidando de seus afazeres domésticos, crianças indo para escola e outras brincando na rua.
Voei mais um pouco e vi próximo ao ribeirão Carneirinhos, as vilas Engenheiros, Tanque, Baú, Areia Preta e Pirineus. Olhei o relógio do tempo e vi registrado 1943, Monlevade com mais de 600 residências; olhei novamente, 1948, 1440, incomodada com a rapidez do tempo, olhei de novo e agora era 1952, com 2.500 residências, distribuídas em 19 núcleos residenciais. Todos com obras de infra-estrutura e serviços - redes de água e esgoto, estação de tratamento, abertura, calçamento e iluminação de ruas, rodovias vicinais, centro comercial, escolas, hospitais, hotéis - como o "Cassino" -, clubes, cinema, igreja e muitos outros equipamentos urbanos estruturais e sociais.
Algo me chama a atenção e vejo a assistência médica da cidade, numa área perto da Usina de Monlevade, onde estavam montados ambulatórios e centros médicos; acelerei a máquina mais ao norte e vi depois da montanha e, uma festa com a inauguração de um importante hospital: o Margarida. Considerado um dos mais bem equipados do Brasil, e notei alguém importante, era o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitscheck, que, durante a inauguração, chamou o seu secretário de saúde e disse: "construa um desses em Belo Horizonte...".
Preocupada com meus pais e como iria sair daquela máquina do tempo e querendo ir embora, vejo a instalação de uma usina de beneficiamento de leite e um lactário, onde eram fornecidos aos funcionários leite às crianças de até um ano de idade e manteiga, com preço subsidiado. Observo uma menina parada diante do lactário, com a cestinha de garrafinhas de leite na mão, aquela garota era eu que buscava leite para os meus irmãos.
Na minha viagem, eu sabia que teria que ir para a escola, pois estava estudando e gostava muito disso; vi o Grupo Escolar Monlevade, e mais duas escolas primárias uma na Vila Tanque e a terceira no Tietê.
Neste momento observo bem e vejo homens se dirigindo a um curso profissionalizante, que havia começado a funcionar em 1942, SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Eram sonhadores e batalhadores que queriam melhorar a situação de vida de suas familias e, entre aquele grupo reconheço um, meu pai, que estava a procura de estudos, pois a Belgo-Mineira dava auxilio para isso. Este homem: Armindo Jerônimo da Mata que antes carregador de carvão na empresa, agora se preparando para crescer na vida.
Percebo, através de voo razante sobre a cidade que crescia e florescia, que a usina estava no alto de uma pequena esplanada e do outro lado havia uma construção fantástica, com o projeto entregue nas mãos de um jovem e talentoso urbanista chamado Lúcio Costa... era a Matriz de São José Operário, única Igreja do mundo em forma de “V”. Diz-se ainda ser a única em formato de cálice.
Olho novamente o relógio do tempo e percebo que estava em 1954, e vejo outra inauguração: Ginásio Monlevade, pois até então todos os jovens que queriam estudar tinham que ir para a capital ou outra cidade de Minas. Entre aqueles alunos daquela primeira turma estava ele lá novamente, Sr. Armindo.
Percebi que ainda tinha tempo e resolvi visitar a área de lazer daquela comunidade: um estádio de futebol e dois times - o Metalúrgico e o Belgo-Minas - além de clubes recreativos - o Social, o Ideal, o União Operária e o Grêmio Esportivo – que eram mantidos ou subvencionados pela empresa.
Através de voos razantes vejo estradas surgindo em todo vale do Rio Doce construida pela Belgo-Mineira, favorecendo em grande medida para a ocupação e a valorização econômica de toda a região. Surgiram prósperas cidades - Goiabal, Dionísio, Alfié, Grama, Santa Isabel, Ipatinga, Jaguarassu, Várzea da Palma e muitos outros.
Assim eu me conscientizei que, graças a este empreendimento de grande porte da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira houve um desenvolvimento muito grande de toda a região do vale do Aço em Minas. Pois estava atraindo novos comerciantes, novos sonhadores, consequentemente, a criação de novos bairros ao redor da indústria, mais gente e mais trabalho.
Manobro a máquina do tempo e consigo aterizar em minha casa sã e salva. Levo um susto, acordo e percebo que foi um belo sonho. Monlevade agora estava prestes a dar mais uma arrancada para o seu crescimento e dar qualidade de vida aos seus habitantes.
Continuei a minha viagem só que agora acordada e hoje recordando através de minha memória vejo Monlevade nos anos dourados de 1960, Ideal Clube, Social Clube, grandes carnavai, grandes bailes com grandes orquestras. E é, também, a partir desda época que começa a surgir os primeiros movimentos políticos na colina verdejante de carneirinhos, pois a cidade começa a apontar para um crescimento estonteante.
Hoje, com 59 anos, morando longe de minha terra natal, me lembro de sua grandiosidade, pois eu mesma havia trabalhado na Belgo por 4 anos e meu pai se aponsentou nela. A usina, atualmente ARCELOR MITAL, é considerada uma das mais importantes do Brasil e foi relevante para o crescimento da cidade e seu sustento, porque é, indubitavelmente, a fonte de renda mais relevante para a cidade.
Mas foi a partir da emancipação política/social que a cidade se expandiu, tendo como primeiro prefeito Sr. Bolivar Cardoso da Silva, Wilson Alvarenga, Josué Henrique Dias, Antônio Gonçalves, Leonardo Diniz Dias, Dr. Lúcio Flávio Mesquita, Laércio José Ribeiro, Germim Loureiro, e atualmente Carlos Moreira.
Hoje ela é uma cidade próspera, com a seu centro comercial em Carneirinhos, pois todo aquele belo projeto arquitetônico que eu havia visto na minha viagem na máquina do tempo deu lugar va expansão da Usina de Monlevade.
Tenho muito orgulho de ser monlevadedense e não esqueço as minhas origens, pois sou filha de um grande guerreiro que adotou esta cidade para viver e construir a sua familia.
Sabe-se que a educação da cidade é uma das melhores do interior mineiro, como muitas escolas de Ensino Fundamental, Ensino Médio, e Cursos Superiores. Existem quatro escolas de ensino superior, Entre elas destacam-se a UFOP, e a UEMG. Estas são grandes responsáveis pela vinda de alunos de diferentes regiões. Há um aumento da circulação de renda graças aos estudantes que são obrigados a usufruir do comércio da cidade.
Assim das forjas Catalã de João Monlevade, passando pela Belgo-Mineira à ARCELOR MITAL surgiu UMa sociedade crítica, amiga, atuante e participativa que fez da cidade o que ela é hoje em dia. Surgindo, também, Carneirinhos com comércio, escolas, igrejas, supermercados aumentandio ainda mais a im portânciua do municipio para a região do Rio Piracicaba.
Por tudo isso, PARABÉNS MONLEVADE! Você é progressista e dá qualidade de vida aos seus filhos. Um dia voltarei para os suas montanhas!
MUITAS SAUDADES!

3 comentários:

  1. Este texto escrevi para um concurso em minha cidade natal, João Monlevade. Ele foi publicado no Jornal "MOrro do Geo" da mesma cidade em novembro de 2009.

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  2. Que lindo!Parabéns...
    A senhora escreve extremamente bem...

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  3. Anônimo6/5/10

    Estou esperando o que você me disse:Que ia escrever um artigo sôbre minha história.Beijos

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