POESIAS DE ALBÊNIO




Calvário


Meu Senhor, eu, pedindo-te perdão,
Aqui estou a teus pés a chorar.
Só tu, com este bondoso coração,
Compreendes-me e podes perdoar.

Ao virar as costas ao meu Jesus,
Nunca pensei que eu sofreria assim.
Nunca pensei numa vida sem luz,
E que o calvário não teria fim.

Derrotado, agora venho implorar
Com meu coração sangrando de dor,
Eu te peço, Jesus, par me ajudar,
Confiando no teu infinito amor.

Este fardo eu não posso carregar,
Estou cansado, sem forças Senhor.





LÁGRIMAS DO SERTÃO

Por que choras, oh meu sertão querido,
Deixando os teus filhos desesperados?
Por que não cobres teu peito ferido,
Ao pagar teus inocentes pecados?

Porque não imploras perdão a Deus,
Em vez de quieto, sofreres sozinho?
Pagas os pecados que não são teus
Enquanto as chamas devoram o teu ninho.

Por que tremes ao olhar extasiado
Na longas distãncias do infinito?
pareces um covarde fracassado,

Enquanto és forte, sadio e bonito
Sim, meu sertão querido e imaculado,
Sofres na grande dor deste conflito.

A.L.Lula


SÚPLICA


O sol declinava triste, indolente,
Colorindo as fronteiras do horizonte,
Enquanto minha alma, descendo ao poente
Cobria de vermelho a minha fronte.

Eu estava triste nesta tarde bela,
Contemplando o meu copo sobre a mesa,
Ali eu via o retrato dela
Era um contraste à minha tristeza.

Bebi muito naquela tarde linda,
Uma tarde que se tornara escura;
Procurei matar minha dor infinita
Nascida, talvez, de uma formatura.

Foi-se noite, surgia a madrugada,
Ainda triste, eu acordei no leito,
A minha alma sentia-se desgraçada
Co'esta tristeza a invadir-me o peito.

Era um ébrio, era um desesperado;
Queria encontrar os olhos de Jesus.
Pois vinha sofrendo e já tão cansado,
Neste mundo escuro onde a noite é luz.

Supliquei perdão por estar assim
Com a consciência latejando em dor.
Um manto escuro decliniva em mim,
Senti saudade de uma grande amor.

Mas este amor imenso, ainda eu tenho
Embora traga neste coração,
Dois olhos verdes que seguindo eu venho
Co'as mais sublime dor de uma paixão.

Supliquei nesta madrugada triste,
Pelo a Deus aqueles olhos lindo,
Tudo de belo que neste mundo existe
Se resume ali, vai aos céus subindo.

Ela é tão nova, é uma flor que nasce,
U"a flor que nasce e lentamente cresce,
Mas já traz brilhando em sua linda face,
Lindos olhos verdes que me entristecem.

Eu te amo, pequena senhorita!
Torno-me um infeliz apaixonado;
Tu não vês esta pobre alma aflita;
Ela está bem perto, triste ao seu lado.


ALL, Publicada no Jornal Sudoeste em 1998.



NO SILÊNCIO DAS LÁGRIMAS  - (Dedicada a sua filha Denise da Mata)


     No silêncio doido da lágrima que rola
     Saindo da alma sozinha que chora
     No respirar tristonho da vida,
     Na solidão do mundo da morte inglória
     Que parte, aos poucos, sem despedida.

Esta é a vida do poeta que viveu,
Que existiu, sentiu, amou e morreu
Na amargura macabra da solidão.
Que encontrou nas garras da saudade,
Motivo único de felicidade,
recordar, e recordar... e recordação.

     "Certas coisas são dificeis de dizer",
      E nos olhos deveriam aparecer,
      Com o som bem alto de uma voz.
      Mas se perdem na imensa covardia
      Da rotina de cada dia,
      Do viver constante de todos nós.

Obrigado, filha, pelo verde dos olhos teus.
Por chamar a atenção dos olhos meus
Que silenciosamente, clama sozinhos
Tua mãe, a minha esposa querida,
É réstea de luz de minha vida...
Mas é longo, muito longo, o meu caminho.

      Um dia, quando não mais eu estiver aqui,
      Sem condição de lembrar que já vivi,
      Também restará, de mim, uma saudade.
      Você sentirá no seu próprio coração,
      Que na gloriosa ressurreição
      Estará seu pai! ... Quanta felicidade!

Mas hoje, não fosse a confiança no Deus que amo,
Não fosse o ecoar das preces que clamo,
Não valeria o fato da existência.
Flutuar na onda espinhosa da desgraça,
E o balançar cosntante que nunca passa,
Sem brisa, esperança... independência.

       Minha filha, este morto, sozinho ainda existe.
       Contempla o balançar da lua triste
       Que passa, teimosa, pelo céu em fora.
       Vem sempre como rainha,
       Ás vezes sem nuvens, linda sozinha,
       Deixa-me solitário e vai embora.

Como a lua que encanta os corações,
Que inspira e traz recordações,
Nas grades macabras da felicidade,
Quero ser lembrado como poeta triste,
Que simplesmente ainda existe,
No silencioso arquivo da saudade.

ALBÊNIO LIMA LULA, 2003.





CAIRÁS 


És a flor... sou a terra... estás em cima.
Vejo-te, mas não consigo alcançar.
Pétalas verdes que pra mim declinam
Sob o beijo do vento a balançar.

Não sei porquê, não ouves os lamentos
Deste chão que te ama loucamente.
Tenho ciúme das brisas, dos ventos,
Que te beijam aí tão docemente.

Quando a imensa beleza te deixar,
Quando o vento não mais beijar a ti,
Quando este rosto lindo descorar,

Quando a alegria da vida te fugir,
Quando a alegria do mundo te faltar,
Neste chão tão pobre, virás cair.

A.L.Lula



CAMINHADA


Ao projetar o olhar para o futuro distante,
Como Ser abstrato no mundo errante,
Fixei a mente no dia do meu fim.
A partir de então, solitário e triste,
Até mesmo o "eu" que ainda existe
Parece não mais fazer parte de mim.

Vejo-me apenas na marcha macabra e calada,
A caminhar tristonho em plena madrugada,
Já sentindo a angústia dessa hora.
Com esse quadro retratado na mente,
Passo a passo e, constantemente,
A pouco e pouco estou indo embora.

    Num esforço extremo, ainda tento voltar,
    Trazendo o corpo ... a mente ... o olhar...
    Para a ilusão dos dias atuais.
    Vejo a humanidade no afâ da vida,
    Como se eterna e segura fosse a guarida,
    Lutando, desesperadamente, por coisas banais.

Se todos também fossem aonde estive,
Se cada um deixasse o trono onde vive,
Enfeitados pelos espinhos da maldade,
Talvez pudessem ainda cultivar amor,
Aliviar no próximo o existir da dor
Antes de chegar os dias de sentir saudade.

     E assim a vida passa tão de repente,
     Leva embora a juventude da gente,
     Deixando grande vazio no coração.
     E a tristonha velha face que chora
     Contempla o seu indo embora
      E volta-se para a doce recordação.

E nas grandes alturas do infinito,
Onde não se ouve a força do meu grito,
O silência acena a chamada
Vem o medo terrivel do fim,
Plantando espinhos no meu jardim,
Nas fronteiras tristonhas do nada.

      Mas este velho coração insistente,
      Que tanto bem desejou a tanta gente,
      Ainda possui uma réstea de esperança.
      Não fica inerte ou vagando ao léu,
      Mas ergue os olhos para o céu
      Com viva força e terna confiança.

Na ânsia de encontrar a estrada da vida
Ergo-me no resto da força quase perdida
E enxugo as lágrimas dos olhos meus.
Sentindo as fibras a alegria voltando,
Abraço a Verdadeira Vida chorando
E entrego-me nos braços de meu DEUS.

ALL, 01/06/2000




AMO-TE

Amor, meiguice e carinho,
Como uma inocente pomba no ninho,
Desafias tudo causando dor.
Meus olhos tristes, cheio de paixão,
 Levam para o meu pobre coração,
Um profundo e vasto oceano de amor.
E os meus olhos te seguem, passo a passo.
Tristes, lacrimejados de fracasso
E encontrar co'as teus cheios de ternura
Sacrifiquei este tão grande amor,
Suportei com ele a minha dor,
E o juntarei a mim na sepultura.

      Se tu percebesses o quanto eu choro,
      Se visses, ao menos, o quanto eu imploro,
      E se sonhasses com o meu desejo.
      Não fosse eu um abandonado plebeu,
      Daria a vida por um abraço teu
      Trocaria o mundo pelo teu beijo.

Parecias uma flor balançando ao vento,
Sem pecado, sem dor, sem sofrimento,
Vejo a tua boca sempre de puro amor
E sempre corada como uma flor,
Flor bonita que desejei beijar!

       Em meus sonhos sempre sinto teus beijos.
       Sempre toco em teus lábios como almejo,
       Vendo neles assim, a minha vida.
       E eu  te beijando exclamo a toda hora,
       Para a tua bonita face que chora,
       Meu amor, minha flor, minha querida.



SOZINHO

Mundo hipócrita, cheio de maldade,
humanidade imunda e desgraçada,
Voltaste à lama co'a persersidade
Mesmo antes da data por Deus marcada.

Odeio a tudo que no mundo existe;
Nada existe no mundo para mim
A única cousa que aqui me assiste
É a tristeza amarga já sem fim.

Deixem-me sozinho, eu também sou mau;
Sou mau porque neste mundo nasci.
Odeio a todos neste lamaçal,
lamaçal imundo no qual nasci.

Peço perdão a Deus se estou pecando.
Se estou pecando é porque sou sincero,
Pois o mundo a cada dia está gerando
as maldades que nem no inferno eu quero.

Quero morrer sozinho nesta vida,
A vida que própria vida matou;
Pois este mundo imundo suicida,
Está tão morto que já não sente dor.

Somente o amor me poderá dar vida.
Somente a vida me dará amor,
Amor e dor já me roubaram a vida.
Vida sem dor não pode ter amor.

Você que lê esta poesia assim,
Você que é jovem, é uma moça linda,
Levante este olhos para mim,
Libertando-me desta dor infinita.

ALL, MONLEVADE, 1965.

TEUS OLHOS VERDES

Teus olhos verdes, senhorita linda,
São como pérolas brilhando ao sol.
Tua voz tão meiga é melodia infinda,
Desafiando a voz de um rouxinol.

Teus olhos são rêmoras para os meus,
Tua face é uma luz em meu caminho.
Dentre os olhos que fitam os olhos teus,
Os meus, são os mais aflitos e sozinhos.

Passas flutuando como uma santa,
Que me encantae me deixa apaixonado;
Passas como uma santa que me encanta.

Cuja luz me deixa triste a teu lado
mas em minha alma agora se levanta,
U'a voz que canta: pobre desgraçado!

ALL, MONLEVADE, 1966.

ESPERANDO...




Oh Deus, que nas profundezas etéreas do infinito,
vive aqui em cada célula de uma coração.
Que no silêncio desesperado do ser aflito,
vê o pranto, a angústia em cada grito,
De cada alma perdida em cada multidão.

Oh Deus, que no passado morria naquela cruz,
que no presente vive para dar Vida à vida,
que fez o escuro dominar a luz
no corpo morto do vivo Filho Jeus,
Na alma aflita de uma mãe dorida.

Oh Deus, que para dar vida à pobre humanidade,
prometeu um dia retornar ao mundo,
que transforma o sofrimento em felicidade,
que vive eternamente em cada saudade
neste vale deste abismo tão profundo.

Quase desesperado eu Te espero tão sozinho;
Dando ânimo ao meu pobre coração,
Procuro por sobre o mundo o Teu caminho,
Transformando cada chicotada em um carinho,
Oh Deus, és Tu a minha única salvação.

ALL, SALVADOR 1963.



SER POETA

Ser poeta é observar a vida,
Ser poeta é amar a natureza;
Ser poeta é ter a alma ferida
Mergulhada em infinita tristeza.

Ser poeta é amar melancolia,
Ser poeta é alimentar a dor,
Ser poeta é fugir da alegria
è viver amando sem ser ter amor.

Ser poeta é ferir a própria alma,
Ser poeta é desconhecer carinho,
É mergulhar numa profunda calma.

Ser poeta é sempre chorar baixinho,
Ser poeta é vegetar como uma palma,
No viver tristonho de um ser sozinho.

Albênio L. Lula, Brumado 1962.


FOTO DE ALBÊNIO E ZILMAR EM BRUMADO.


SAUDOSA MÃEZINHA!
Saudosa mãezinha querida,

Onde está que nunca a vejo
Eu queria tê-la em meus braços
Esquecendo assim os meus fracassos
De tantos e tantos falsos beijos.

Eu tenho saudade de você
Inúmeras saudades sem fim
Meus tristes olhos lacrimejados
Meus olhos desesperados
Procuram você junto a mim.

Dezoito anos se passaram
Desde que você morreu,
São dezoito anos de saudades
Sem alegrias, felicidades,
Sem um pequeno carinho seu.

Minha pobre e adorada mâezinha,
Bem sei que quando eu morrer,
Irei com ansiedade
Pra esquecer tanta saudade
Bem juntinho de você.

Você é como um beija-flor,
Que sempre uma rosa vem beijar,
terno beijo, rápido e saudoso,
Amável e carinhoso,
Que faz faz a rosa murchar.

Eu, ao sentir imensa saudade
E pondo-me no lugar da flor,
Sinto-me solitário e triste
pois você já não existe
Em seu lugar, amarga recordação ficou.

Agora ao relembrar o seu beijo,
Esse beijo que me faz chorar,
Sem lembrar que você morreu,
Assim, recordando o beijo seu
Sou um solitário a esperar.

Tristezas e saudades sem fim,
São companheiras da minha vida,
Elas me fazem sempre sofrer,
Ao lembrar-me de você
Minha mamãe querida.

Volte minha querida mãezinha
Para matar a minha paixão,
Para matar a minha saudade
Para um pouco de felicidade
dar ao meu triste coração.

Sim, mamãe querida,
Porque não retorna para mim?
Sim, eu bem sei que você morreu,
mas preciso do carinho seu
Preciso de você junto a mim.

Oh, Jesus, meu senhor,
Eu vos peço com fervor
Devolvei a minha alegria
Ajudai-me, oh meu Jesus!
A viver sem essa luz
Que nos meus olhos existia.

Estou sozinho, bem sei,
Perdi tudo o que amei
Na maciês de um coração tão puro
Vivo a comtemplar o belo
Descortinando tempo futuro.

ALL, Salvador 1964.




BRISAS

Gélidas brisas roçavam-me a face;
Pálidas estrelas cabria'o céu,
Enquanto aquela usava um disfarce
Pairava em mim uma brisa de véu.

A lua despontava no horizonte.
Como um eterno paraíso multicor,
Banhava os campos, clareava os montes,
Com o seu belo manto de esplendor.

Assim como desilusão é dor
Assim como a dor é fatalidade,
Assim como a natureza ama a flor,

Assim como a flor é felicidade,
Assim, também, a brisa é meu amor,
Minha flor, minha dor, minha saudade!

ALL, Brumado - 1961


DOR DE UMA SAUDADE



Surgiste de repente em minha vida,
Mas depois, foste embora de repente.
E os meus lábios agora sem guarida
Ficaram sem os teus lábios ardentes.

Como pode esta vida ser assim,
Tão cheia de sorriso e dor!
Por que tão linda tu chegaste a mim
Enfeitiçando-me com grande amor?

Agora estou sozinho neste mundo,
Sozinho com a dor desta tortura;
A solidão, abismo tão profundo,
Enche-se como um mar de amargura.

Pobre, tristonho pela vida em fora,
De pouco em pouco vou cumpriundo a sina;
No corpo pobre, alma mais pobre chora,
teu sorriso retrata esta ruína.

Que adiantaram os beijos que me deste,
Se hoje são amargos para mim;
Felicidade agora se reveste
Deste desespero amargo e sem fim.

Por isto, hoje, não mais te quero ver,
Quero evitar mais tarde u'a dor maior
Usando esta tristeza para esquecer
Serei triste mas não estarei só.

Um dia ao fitar um filho teu,
Terei tristeza vendo que é teu filho.
Eu sorriria se fosse filho meu,
Se os olhos tivessem dos meus o brilho.

Mas é assim a vida neste mundo;
Eu choro para dar sorriso a ti
Quando eu vencer o abismo tão profundo
Gargalharei ao ver que não vivi.

ALL, maio 1998


DELÍRIO


Pulsa no meu peito uma saudade
Do que para mim já não existe,
Não é dor, é infelicidade.
É delírio de uma noite triste.

Falta-me o amor que eu queria,
Não a trsiteza da qual cobriste;
Falta-me beijo na cama fria,
É delírio de uma noite triste.


Não durmo, mas sonho com o amor.
Amor sincero que em mim não viste,
Pobre coração cgeio de dor!
É delírio de uma noite triste.

Na quietude imensa do infinito,
Onde os meus lamentos não ouviste,
Descortino um coração bonito,
É delírio de uma noite triste!

ALL, 1965.



PRISIONEIRO DA CONSCIÊNCIA

Porque não calas, minha consciência?
Deixa-me viver minha vida empaz.
Liberta-me, dando-me a indepedência,
Esquecendo o que já ficou para trás.

Por que tu me atormentas noite e dia?
Se esta vida é cheia de perdição.
Por que faz-me viver o que eu vivia
Esmagando o meu pobre coração?

Deixa-me consciência impertinente,
Enxugar estes pobres olhos meus;
Livra-me desta vida incandescente,

Vida dos pobres escravos judeus
pois quero viver livre e independente
Deixa-me, pelo amor de nosso Deus.